As sociedades letradas ocidentais investiram enormemente na educação pública. Universalizaram a educação básica, atingiram efetivos expressivos de educação média e caminham, hoje, para generalizar a educação superior na faixa dos 18 aos 24 anos. O avanço econômico de países como França, Inglaterra, Bélgica, estados Unidos, no século XIX, coincide com o esforço de universalização da educação fundamental. Esforço da forte liderança de Horace Man, nos EUA, e de Bismark, depois da Alemanha unificada.
A educação não faz milagres e nem é fácil obtê-la. Torna-se necessário alocar recursos, no orçamento, formar e pagar bem aos professores. Formação e remuneração do professor são indicadores de excelência.
Em realidade, nunca tivemos educação pública de qualidade. Com a República, começamos a educação pública para a classe média. Compreenda-se que, até 1883, o Brasil tinha mais de 80% de analfabetos. O povo, o povão mesmo, nunca foi contemplado com educação de qualidade. Dou o exemplo do Colégio da Bahia, o nosso Central, que, mais ou menos até os anos setenta, possuía um corpo docente de professores catedráticos concursados, ensinando da matemática ao latim, mas servindo à classe média urbana.
O antigo exame de admissão para o Central ou para o Colégio Antonio Vieira era o mesmo, tinha alto nível de exigência. O pobre ficou à margem do bom colégio público, aumentando as coortes dos iletrados. A boa escola pública sempre foi para a classe média. Quando melhora o ensino público, elitiza-se a sua clientela. Como manter a educação pública de qualidade para todos se quando aumentamos a demanda piora o ensino?
A economia da educação não coincidia com a sociologia da educação. Explico. O que se arrecadava e se destinava à educação era pouco para administrar a educação de qualidade. Quando fui secretário estadual de Educação pela primeira vez, o meu colega secretária da Fazenda reclamava que estava gastando muito papel! A secretaria de Educação é a repartição que consume mais papel, repetia. Eu respondia que ainda era pouco para as nossas pobres escolas públicas.
Afirmam os estudiosos que o crescimento econômico só é possível com educação de base. A afirmativa é muito interessante. O Brasil alcançou a sexta ou sétima posição mundial sem nunca ter tido educação básica de qualidade. Milagre? A indústria moderna depende cada vez mais da concentração tecnológica. São fundamentais os programas de capacitação do Senai. E, na Bahia, o Senai mantém uma excelente universidade tecnológica com o Cimatec.
Dentro do romantismo educacional vigente, ouvi uma frase enfática de alta autoridade. Falava eu dos problemas da educação do semiárido. Fui interrompido com a seguinte afirmativa: educação é solução, educação não é problema! É apenas uma frase solta no espaço.
Quando criei a Universidade do estado da Bahia, a vitoriosa Uneb, fui muito criticado. Houve até uma ação judiciária contra mim. Deveria ter aplicado os recursos na educação básica, afirmavam, compreendo que cabe à universidade formar professores para todos os níveis e tipos de ensino. Como educar o território baiano sem professores formados? Por isso, a Uneb está presente em toda a Bahia. É preciso formar professores para os municípios (a apalavra interior quando se refere às pessoas é altamente pejorativa). Pois bem, estamos formando professores, mas como remunerá-los condignamente? É um problema nacional antes que baiano. O esforço de educar é da família, do Estado, dos parceiros, de toda a sociedade. A Educação é causa e efeito do crescimento econômico. Não é independente e é muito cara. Repito o que aprendi em Penn State: “ se você acha que a educação é cara, tente a ignorância”.
(Artigo publicado em A Tarde, de sexta-feira, 8/07/2011)
(Artigo publicado em A Tarde, de sexta-feira, 8/07/2011)
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