segunda-feira, 13 de setembro de 2010

PALESTRA SOBRE O PROFESSOR COSTA NA SOLENIDADE DE PREMIAÇÃO



Prof. Luciano Bernardo

Comprimento a todos na pessoa da Sra. Benedita Lisboa Costa.

Estou plenamente consciente que sou o menos capacitado entre nós, para falar, de forma consistente, sobre esse grande educador e homem público que foi Francisco de Aquino Costa, nosso querido Professor Costa. Portanto, peço-lhes que perdoem a minha ousadia nessa tentativa de abordar o seu legado para o povo castroalvense.

FRANCISCO DE AQUINO COSTA nasceu no dia 05 de outubro de 1918, na cidade pernambucana de Sanharó. Era casado com Benedita Lisboa Costa, com quem teve quatro filhos; Francisco Costa Jr. (Costinha), Neuza, Neuma e Natália. Em Castro Alves, nasceram estas duas ultimas filhas. Na Bahia, lecionou em renomadas instituições de Ensino, a exemplo dos Colégios Taylor Egídio, na cidade de Jaguaqura e Alfredo Dutra, em Itapetinga. Ao tomar conhecimento do seu trabalho como educador, o nosso confrade Aurino Teixeira, convida-o para dirigir o tradicional Ginásio São José; “doces lembranças de um tempo que deixou marcas”. Muda-se então para Castro Alves por volta de 1960. Notoriamente, sabe-se que dirigiu esta instituição com linha dura, rígida, muitas vezes incompreendida e questionada por aqueles mais rebeldes. Por isso mesmo, essa questão merece uma discussão a parte. Reflexo da rigidez dos padrões morais daquele tempo, onde a educação era pautada num tradicionalismo histórico, arraigada de ideologias e acessível a uma parcela ínfima da população. O Professor Costa, cuja natureza empreendedora e espírito público, não demorou a conquistar a confiança e admiração de todos do seu convívio, e tão logo se engajaria na laboriosa luta pelo crescimento de Castro Alves, em especial no campo da educação.

Das suas contribuições, destaca-se a Escola Normal Dr. Antonio Lomanto Junior, fundada por ele e outros luminares como o próprio Aurino Teixeira. Fundou mais tarde o curso noturno com o apoio de Morena Novaes, Tereza Sales, Dutra, Fernando Reis, Zilda Andrade, Tereza de Marianinha, etc. Este estabelecimento de ensino formou gerações de jovens castroalvenses, sempre pautado na égide da ética e do modelo de uma educação reta e social. Por ali passaram, sob sua direção, estudantes ricos e pobres, egressos não só de Castro Alves, como também de outros lugares, convergidos pela tradição e pela fama, alcançadas pelo trabalho árduo e inovador do Professor Costa. Hoje, sem sombra de dúvida, muitos deles estão espalhados nas mais diversificadas áreas de atuação profissional; professores, advogados, médicos, pedreiros, motoristas, contadores, comerciantes, ou até mesmo que abraçaram outras ocupações, nas quais por certo exerceram e exercem suas funções com retidão, ética e profissionalismo. A maior parte da sua vida foi dedicada à educação, ofício este que exerceu nas palavras de sua filha Natália: “com maestria, dedicação e amor”.

Naquela postura apolínea e imbatível quantos de nós não fomos influenciados, no que toca à sua dedicação e sua práxis pedagógica para com o encaminhamento da educação. Além disso, muitos foram influenciados pelo seu discurso sempre eloqüente e visionário, atributos eminentemente de sua forte personalidade. Eu o definiria como “O Mestre da palavra” (plagiando nosso confrade Armando Rosa em alusão a Carlos Dubois – O Artista da palavra), pois sua oratória era sem igual, diria até infalível.

Inegavelmente, o Professor Costa contribuiu para o desenvolvimento, nos campos educacional e profissional, bem como intelectual, do nosso município, persistindo na promoção de uma educação de qualidade, com ética e paixão, seus traços mais indeléveis. É ele mesmo que nos afirma:

“(...) foram tantos {alunos} que passaram por este estabelecimento de ensino que não me recordo (...)”.

Este singelo fragmento, impresso na ante capa do regulamento do concurso, foi proferido por ele, na solenidade de Formatura da Turma de 1989, no Lyra Tênis Clube. Referia-se às inúmeras turmas de concluintes que colaram grau sob sua direção na Escola Normal Dr. Antonio Lomanto Júnior. E que nos revela um legado inconteste de sua ação revolucionária em favor da educação do castroalvense.

Revolução aqui, senhores, tem caráter político-social na acepção da palavra, pois ao revolucionar o modo de gestão do segmento educacional propiciou mobilidade social / possibilidades para muitos que passaram tanto pelo Ginásio São José quanto pela Escola Normal nos cursos Magistério e Técnico em Contabilidade. Professor Costa era um homem forte, austero, mas cultor e amante da convivência saudável e sem distanciamento com seus alunos e condiscípulos, sem perder, no entanto, o respeito e a obediência. Daí lembro-me dos agradáveis bate-papos no pátio do Ginásio!

A concretude do mundo do capital tem feito de nós, homens e mulheres, extremamente insensíveis, ligados às coisas superficiais e ao individualismo exacerbado. Com efeito, contrariando essa ordem, o Professor Costa procurou, no âmbito do engajamento político, caminhos para o crescimento de Castro Alves para além da educação, ou seja, quis o destino que ele se tornasse Prefeito de Castro Alves, em 1972, pelo extinto partido da ARENA. Governou a cidade com a mesma dedicação dispensada a educação, realizando várias obras, entre elas a recuperação do prédio da Prefeitura (devorada por um incêndio), a implantação de calçamento das Ruas Santa Terezinha, das Flores e da Praça Dionísio Cerqueira, e outros logradouros. Destaca-se também a conclusão da construção do Fórum Desembargador Clóvis Leone, incluindo inúmeros prédios escolares como a Escola Oswaldo Campos e na zona rural do município (Sítio do Meio, Cabeça do Nego, Argoin, etc.). Possibilitou a instalação da agência do Banco do Brasil, doando o terreno para a construção do prédio.

Durante o tempo que governou nossa cidade, buscou fazer o melhor por Castro Alves, mas em virtude dos arranjos e nuances da política partidária, costumava dizer "não dou para a política, sou homem de sim, sim ou não, não". Sua administração fora marcada pela austeridade e eficiência, principalmente no que diz respeito à educação. Ainda que não tivesse inclinação para a política (partidária), foi um dos pioneiros a inaugurar um modelo de gestão anti-assistencialista, contrariando a interesses particulares e corporativos. A rigor, sua marca indelével era mesmo transformar e potencializar a população através da educação.
Ao, efetivamente, promover a disseminação do conhecimento com o objetivo de forjar a formação profissional e intelectual, promovia mudanças e transformações político-sociais, quebrando paradigmas no contexto das mentalidades e imprimindo tempos diferentes para Castro Alves.

Tudo isso nos faz associar ao educador Paulo Freire que preconizava: “Educar é mais que ensinar boas maneiras, ler, escrever”. Nisso, o Professor Costa, assim como Paulo Freire, postulou para seus alunos a formação de uma consciência crítica para forjar cidadãos pensantes e atuantes, oferecendo-os minimamente uma profissão para possibilitar uma condição de vida melhor. Enquanto a falta de oportunidade reinava numa sociedade desigual, e as mazelas sociais impedindo o crescimento das classes menos favorecidas, deu oportunidade de trabalho, principalmente o primeiro emprego a muitos castroalvenses, não só no segmento do Ensino, como também noutras áreas, promovendo o espírito de equidade.

Frei Beto, um condiscípulo de Paulo Freire e defensor da educação cidadã/humana, soube sintetizar claramente a pedagogia da autonomia de seu mestre (1996), a qual ele tanto praticou, desejoso em provocar nos seus educandos sólidos e largos sentimentos de auto-afirmação para lidar com a (in) constante realidade. Frei Beto resume: “(...) Ao longo das últimas quatro décadas, seus “alunos” foram emergindo da esfera da ingenuidade para a esfera da crítica: da passividade à militância; da dor à esperança; da resignação à utopia”.

Referendar Paulo Freire, e também Professor Costa, aos professores e alunos, como uma possibilidade real de uma Educação/Cidadania é propiciar luz as práxis pedagógicas, num desejo de emancipar seus alunos e torná-los conscientes quanto ao seu papel no tecido social, vaticinando o direito de mulheres e homens, enquanto seres humanos. Considerar o professor como apenas um expositor de conhecimentos é nortear equivocadamente a ação educadora, a tarefa do MAGISTÉRIO não se encerra evidentemente em transmitir o conhecimento, seu propósito ultrapassa esta idéia. Devemos compreender a responsabilidade que permeia a ação educadora, e, para tanto é preciso que a exerçamos numa eterna vigilância e numa dimensão mais reflexiva quanto à dualidade histórica do ensino/aprendizado.

Entretanto, a falta de valorização dos profissionais do ensino e a ausência de condições básicas à sua prática pedagógica, aí pensamos em instalações, tecnologias, livros, melhores salários etc., fazem com que a educação seja condenada à mediocridade de muitos em concebê-la apenas como um mero instrumento disciplinador. Uma educação opressora, sem função social, um controle do aparelho do Estado, que ideologicamente regular e limita as transformações sociais necessárias à população.

Paulo Freire assinala corajosamente em sua obra o repúdio à falta de valorização do magistério dizendo (...) A minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente, crítica e organizada contra os ofensores (...). Consciente, pois, ainda que sua tarefa não seja devidamente valorizada e melhor viabilizada, não aviltaria o cumprimento de sua missão transformadora, enquanto educador. Não foi diferente o posicionamento do nosso homenageado, que mesmo diante das dificuldades enfrentadas ao longo dos anos, acabou por promoveu a educação, consequentemente, oportunidades em Castro Alves. Nesse viés, reporto-me a um despretensioso artigo que escrevi em 1995 para o Jornal “O Liberal”. Nele, abordava este repertório, no que toca à valorização dos professores, defendia que “(...) é preciso motivar, valorizar e capacitar os profissionais de ensino (...)”.

O mundo do saber é mera utopia. Isso é engodo! Conto de ociosos! O ideal de equidade, presente no ideário de Professor Costa, é tão real e possível, do contrário, não estaríamos aqui, hoje, nesta linda solenidade, premiando alguns dos trabalhos apresentados por alunos que participaram do Concurso Literário Francisco de Aquino Costa - Ensaio 2009, instituído pela ALACA. Esta assertiva faz-me lembrar do poema simples, de autoria desconhecida, mas de uma grandeza profunda acerca do saber lido no início da cerimônia (A canoa).

Esta solenidade reúne e contempla alguns dos familiares, ex-alunos, colegas, amigos e admiradores do Professor Costa, para celebrar com regozijo uma vitória: o êxito daqueles que acreditaram, incentivaram e patrocinaram o concurso literário, sobretudo estão aqui para reconhecer o trabalho laborioso do Professor Costa.

Nós, da ALACA, como agentes da cultura local, congregamos para transformar as nossas idéias em ações reais para o engrandecimento da nossa Cidade. Saem, hoje, desta solenidade, não vencidos e nem vencedores, mas alunas e alunos, motivados à leitura e à pesquisa científica. Ademais, cidadãs e cidadãos fortalecidos e engajados nas questões político-sociais para conduzir mudanças necessárias através do “pensar e agir”.

A leitura e o engajamento aqui suscitados, como fontes de ampliação do conhecimento só hão de fazer sentido, se seguidos forem, do ponto de vista epistemológico (e político), as pisadas de uma educação comprometida pela ética, sensibilidade e humanismo, tal qual Professor Costa o fez. Aqueles que permearem as veredas da leitura por certo encontrarão um mundo fascinante à luz do SABER e do CONHECIMENTO. Chama-nos atenção novamente, o pensamento humanístico do educador Paulo Freire: “educar para quê? Libertar ou oprimir?”.

Francisco de Aquino Costa foi um homem feliz em Castro Alves, cidade pela qual nutria um imenso amor e se considerava um legítimo castroalvense. Faleceu no dia 26 de junho de 2004, na cidade do Salvador/Ba, deixando-nos um exemplo de vida e um legado social.

Agradecemos aos nossos parceiros, em especial à Família COSTA, Prefeitura Municipal, Fundação Pedro Calmon, Leão Engenharia, Posto Cacique, Casa Lago, 96.7 FM Castro Alves, Gisele Flores, Wanax Provedor de Internet, Lenze Camisetas, Jornal Aves de Arribação, AMICA, Organização Contábil Éliton Rios, Laboprev, Diógenes Oliveira Contabilidade e A Tarde.

Seria um equívoco imperdoável deixar de destacar professores como: Clélia Pinheiro de Barros, Tereza Sales, Arlinda Sóther, Anísio Teixeira, Bartolomeu Fernandes, Aloísio Falcão, Dra. Babia, Reinaldo Rosa, Professor Dedê, Constança Tinoco, Rosilda do Ó, Lúcia Lago, Sônia França, Zelinha, Edvaldo Pacheco, Karlão (O artista!), Dr. Luís Castro, Ceiça Barros, Eliana Azevedo, Edinalva Costa (Bina), Conçinha, Professor Carlos, Lúcia Cunha, Lúcia de Móises, Jarleni Andrade, Avany Mendes, Adelita, Aída, Isabel Cristina, Maria José, Djalma, Augusto Nery Cruz, Zenaide, entre outros, bem como os zeladores Helenita Nunes (Tia Léa) e Bulga (sempre dedicados), que juntos com o Professor Costa, contribuíram e, de alguma forma, continuam contribuindo para a formação educacional de jovens castroalvenses; a todos eles, nosso eterno sentimento de gratidão e amizade!

Grato a todos pela atenção!

Um comentário:

  1. Parabéns pelo belo discurso. Corroboro a exatidão de suas palavras, pois fui aluno desde o Colégio São José, onde estudei da 5ª à 8º série em seguida o curso de Magistério, concluido em 1980.
    Muitas saudades do Magnífico Professor Costa, professores e da turma.
    Congratulações,
    Moisés Martins

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