sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DISCURSOS DA INSTALAÇÃO DA ALACA

Pronunciamento do acadêmico Luciano Bernardo
Senhor Presidente da Federação da Academias de Letras e Artes da Bahia, escritor Dr. Benjamin Batista Filho, na pessoa em quem saúdo os demais caros integrantes da mesa;
Minhas confreiras e meus confrades;
Senhoras e senhores;
Mocidade de minha terra!

“O preço da elevação é a responsabilidade”.
(BOAVENTURA, 1971).

Estas foram as palavras com as quais o eminente professor Edivaldo Boaventura como uma verdadeira epígrafe, encerrou seu brilhante discurso de posse na Academia de Letras da Bahia, em 6 de julho 1971, no transcurso do primeiro aniversário do centenário de morte do nosso menino Cecéu, numa alusão direta à missão acadêmica.

Por esse ângulo reflexivo, permita-me Sr. Presidente, que a rigor, eu inicie as minhas breves palavras de posse na presidência da Academia de Letras e Artes de Castro Alves, apadrinhado pela figura apolínea de Francisco de Aquino Costa, cuja memória evoco neste instante, renove a afirmativa do professor: “o preço da elevação é a responsabilidade”. E é, pois, conscientes da responsabilidade que ora repousa sobre os ombros, dessas cidadãs e cidadãos, que nesta cerimônia memorável assumem meritoriamente a condição de fundadoras e fundadores do sodalício castroalvense em traduzir em ação o amor por sua terra natal.

Saem, hoje, deste ato público que conta com a chancela da nonagenária Academia de Letras da Bahia, ademais, da jovem operante Federação das Academias de Letras e Artes da Bahia (Fala,Bahia), cidadãs e cidadãos comprometidos ainda mais com o exercício magistral de cultivar e desenvolver as literaturas e as artes castroalvenses, nas suas diversas modalidades, preservando a memória cultural e os patrimônios tangíveis e intangíveis desta “Pátria” amada chamada CASTRO ALVES.

Como podemos notar senhores, a ação de uma academia estará indissociavelmente ligada ao resgate e a valorização do sentimento de cidadania. Com efeito, reporto-me ao pensamento de Maria Cecília Fonseca sobre a concepção ampla de patrimônio cultural (Para além da pedra e cal), afirma que “sem dúvida, a ampliação do conceito de cidadania, implica no reconhecimento dos “direitos culturais” de diferentes grupos que compõem uma sociedade, entre eles o direito à memória, ao acesso à cultura e à liberdade de criar {...}”. Nessa perspectiva, portanto, arremata o teórico Ricardo Oriá ao dizer que “o direito à memória como o direito de cidadania indica que todos devem ter acesso aos bens materiais e imateriais que representam o passado, a sua tradição, enfim, a sua história”.

Por um viés histórico, à guisa de curiosidade, a nossa academia, efetivamente, não significa ineditismo (inédito) se pensarmos em outras iniciativas similares de outrora. Ora, sem distanciar-me da razão, costumo associar dois importantes marcos de nossa história como sendo já indícios de núcleos acadêmicos aqui em nossa cidade: O frondoso tamarindeiro e o antigo Grêmio Lítero-Recreativo.

Afirmo sem rodeios que a sombra da copa do histórico tamarindeiro servia de ponto de encontros do jovem bardo com a gente sertaneja do Velho Curralinho revelando numa ambiência cultural.

Percebam o que nos escreveu Pedro Calmon acerca dessa sagrada árvore:
{...} debaixo do tamarindeiro frondoso defronte da casa de Manuel Pereira dos Santos. {...} A sombra redonda da árvore marcava a área de um conventilho bucólico: discutia-se a abolição da escravatura, a metrificação hugoana, o fato do dia, o jornal atrasado e a idéia, idéia audaz e fina. (CALMON, 1947).

Myriam Fraga, por sua vez, sintetiza:(...) espécie de templo de verdura, palco e cenáculo, sob cuja sombra tantas vezes, rodeado de amigos, declama, escreve, improvisa versos, relatando também, para uma platéia encantada, azares e peripécias de sua curta e acidentada existência. (FRAGA, 2002)

Um outro ambiente eminentemente acadêmico foi a iniciativa do Grêmio Lítero-Recreativo Castro Aves, fundado na última década do século XIX, sob o entusiasmo do dramaturgo Hilarino Couto juntamente com um pugilo de jovens (Rafael Jambeiro, Davino Figueiredo, Eugênio Araújo, Antonio Francisco Correia Pinto (meu tio-avô) entre outros, imbuídos, sobretudo em promover a ‘educação’ e a cultura). Esse grêmio chegou a reunir 3.000 volumes e fomentava o culto aos grandes nomes da literatura, com destaque para Machado de Assis, Castro Alves, José de Alencar, Vitor Hugo (...) (TEIXEIRA, 1990).

Entretanto, a iniciativa de um núcleo acadêmico efetivo em Castro Alves, que longe estou de negar, deve-se principalmente ao eminente presidente da Fala Bahia, quem tem motivado a Bahia a falar através das inúmeras academias de letras e artes por ele criadas e espalhadas nos quatro cantos do Estado.

Nessa direção, vale destacar outras tantas iniciativas foram empreendidas no campo cultural, a exemplo de periódicos notáveis como o CURRALINHENSE, que aqui circulou nos idos de 1882, e hoje nos orgulharmos de promissor Aves de Arribação. Ressalto ainda recentemente a criação da Amica e de outras agremiações congêneres. Seja como for, nunca é por demais relembrar a emblemática reflexão do imortal Jorge Calmon ao discorrer que “(...) O rótulo da entidade importa muito menos que sua função. Tanto faz ser academia, núcleo, grêmio, associação, ou o que for. O essencial é que cumpra o papel de órgão destinado a congregar aquelas pessoas que estimam a cultura e sejam capazes de produzi-la (...)”. Esse repertório nos leva a compreender que quão grande e desafiadora é a missão acadêmica e, para tanto, é preciso antes de tudo exercê-la numa eterna vigilância, bem como numa dimensão reflexiva quanto as possibilidades de construção de uma memória social e identitária.

Uma das finalidades de uma agremiação como a ALACA, é proporcionar por meio das literaturas e das artes numa perspectiva política, cultural e filosófica a emancipação do POVO. Desse modo, todavia, Abrahão Costa Andrade, poeta ensaísta e professor de filosofia da UFRN afirma que quando aprendemos a pensar para além do modo como nos ensinaram que seria o certo, quando duvidamos de nossas certezas absolutas, quando não abrimos mão de nossa liberdade e quando indagamos se isso que chamamos de ”nossa liberdade” é mesmo uma liberdade pode ficar alerta porque estamos pondo para funcionar o desconfiômetro da filosofia. Estamos começando a filosofar. Naturalmente, esse estado, provoca uma convergência de direitos propulsores à LIBERDADE.


Oxalá, que a ALACA possa efetivamente cumprir com os propósitos para os quais se constituiu, sobretudo o de valorizar a experiência humana, no campo da memória social e do patrimônio cultural, daí Vilson Caetano, professor da UNEB sintetiza: - “(...) Sem dúvida alguma, o maior patrimônio são as pessoas (...)”.

Obrigado, a todos pela atenção, muito obrigado!


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Pronunciamento do acadêmico Armando Barreto Rosa

Saudações aos presentes
Dr. Valfredo Thales de Amorim e Souza, você está aqui e sempre porque, para nós, você é verdadeiramente imortal.

Não poderia iniciar este discurso sem, antes, proferir algumas palavras de agradecimento. Primeiro aos responsáveis pela seleção dos nomes dos acadêmicos fundadores desta academia que, com muita generosidade, viram em mim atributos suficientes para ocupar uma cadeira nesta casa de cultura. Esta distinção muito me honra, mas devo confessar que “recebo esta indicação como estímulo, e não como consagração”. Estímulo sim, para continuar na luta pelo engrandecimento cultural da minha querida Terra. Agradeço ainda pela confiança por me escolherem, entre tantos oradores consagrados, para falar em nome dos novos acadêmicos.

Uma especial e imprescindível palavra de agradecimento vai para o Prof. Edivaldo Boaventura. Professor, a sua presença aqui em nossa Castro Alves, neste momento de tão alto significado, que é o da instalação da Academia de Letras, além de ser altamente emblemática e absolutamente pertinente, envaidece e deixa os castroalvenses orgulhosos. Para nós acadêmicos, em particular, sua presença é um tributo à inteligência. Sua palavra sábia, judiciosa, amável, ficará engastada em nossos corações e certamente vai tremeluzir na página de abertura dos anais desta academia. Quero deixar registrado o meu voto de congratulações para os organizadores desta festa pela feliz iniciativa de trazer uma figura da estatura acadêmica do professor Boaventura.

O dia de hoje marca para nossa cidade e para a nossa gente, um acontecimento singular: a instalação da Academia de Letras e Artes. Mas a importância desse fato não está muito clara para algumas pessoas. É possível que alguém, desinformado, pergunte: o que a criação de uma academia de letras tem de tão auspicioso? Outros pragmáticos, mas não menos desinformados, questionam a utilidade prática de uma instituição onde algumas supostas mentes iluminadas, se reúnem para fazer devaneios literários improdutivos. Outros, equivocadamente, e às vezes em tom zombeteiro, duvidam do grau de erudição dos membros desta casa, porque têm uma imagem estereotipada do acadêmico como um intelectual, autor de vasta obra literária. Essa é uma visão ultrapassada, discriminatória e elitista. Acho até compreensível todas essas digressões, mas, na condição de professor e de acadêmico, não posso permitir que os equívocos sobrepujem a verdade.

A propósito, lembro o grande filósofo Sócrates, que viveu na Grécia Antiga, e que ensinava aos jovens em praça pública, demonstrando que é preciso unir a vida concreta ao pensamento, o saber ao fazer e a consciência intelectual à moral. Este sábio afirmou: “Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, sei que não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não sei.”

Na tentativa de formular um conceito de academia e ao lembrar Sócrates, sou impelido a retroagir no tempo, até aproximadamente cinco séculos antes de Cristo, e lançar um rápido olhar sobre a Grécia. Foi lá que alguns sábios, desejosos de entender e explicar o funcionamento do universo com fundamentação racional, criaram um sistema organizado de saberes, que foi chamado de filosofia. Sócrates, que foi um dos maiores filósofos gregos, teve um discípulo igualmente sábio, chamado Platão, que, entre tantos feitos notáveis, fundou, na cidade de Atenas, uma escola filosófica, a qual foi chamada de Academia. Nessa escola os jovens aprendiam geometria, arte e filosofia. Mas não somente isso. Na academia de Platão se promovia reflexões políticas e foi lá que brotou a noção de cidadania, de república, de democracia, ética, moral, direito, etc. É provável que as nossas academias de letras tenham surgido de inspiração platônica.

Perfeitamente cônscio do risco de cair num perigoso lugar-comum, diria que uma academia de letras e artes instalada em uma pequena cidade, como é o nosso caso, deve procurar ser parte viva da comunidade e ter como linha de ação a promoção da cultura em seu meio. Naturalmente que os mais reticentes vão perguntar: e o que é cultura? De fato esta é uma palavra de múltiplos significados, entretanto, vamos entender cultura como os filósofos gregos entendiam. Para eles, cultura correspondia ao processo pelo qual o homem tomava conhecimento de si e do mundo que o cerca, e criava a consciência da vida em comunidade. Assim, segundo esse entendimento, a cultura é a resposta oferecida pelos grupos humanos ao desafio da existência. Cultura é uma resposta que se manifesta em termos de conhecimento, paixão e comportamento, ou o que vale dizer: em termos de razão, sentimento e ação.

No sentido mais moderno, a cultura pode ser considerada como um amplo conjunto de conceitos, de símbolos, de valores e atitudes que modelam uma sociedade. Nesse sentido, o termo cultura é aplicável tanto a uma civilização tecnicamente evoluída, como a dos Estados Unidos, quanto às formas de vida social mais rústicas, como a dos nossos índios botocudos. Todas as sociedades humanas, da pré-história aos dias atuais, possuíram e possuem uma cultura, e cada cultura tem seus próprios valores e sua própria verdade.

A cultura ultrapassa as barreiras sociais e nivela todas as pessoas pelo seu aspecto mais distintivo: a condição humana. Dessa forma, a cultura inclui toda a riqueza dos ritos e manifestações populares; envolve as etapas criativas dos processos de produção e os modos de fazer. Cultura são os valores, comportamentos e práticas que constroem a identidade de um povo.

A cultura trás prazer, felicidade e eleva a auto-estima das pessoas, além de ser um ótimo remédio para combater a violência e promover a inclusão social.

Portanto, que fique bem claro para aqueles que querem criar um conceito de academia de letras e artes: nós, acadêmicos, não temos a obrigação de sermos perfeitos intelectuais de saber intangível ou circunspetos escritores que vivem submersos em imensas bibliotecas. Como acadêmicos pretendemos ser artistas, educadores, formadores de opinião, cidadãos, obreiros e eventualmente, por que não? escritores e intelectuais. Aliás, entre nós existem autores de livros e pessoas de erudição reconhecida.

A Academia de Letras e Artes de Castro Alves evidentemente não tem o prestígio e a visibilidade “midiática” que têm as academias brasileira e baiana, e nós acadêmicos não temos, necessariamente, currículos tão ricos como os dos imortais de lá. A nossa academia tem o tamanho de nossa cidade, mas a criatividade, a capacidade de abstrair, a versatilidade e o talento de nossos acadêmicos são imensuráveis. Que os confrades de academias co-irmãs aqui presentes, perdoem a minha presunção, mas, se nós acadêmicos “tupiniquins”, tivermos a ventura de conseguir agir com razão no exercício da cidadania, de ter sentimento para reconhecer a estética das artes, e ação para promover uma agitação cultural, exaltando a liberdade de expressão e o respeito às diversidades, certamente estaremos credenciados para pleitear um lugar entre os imortais mais iluminados de qualquer academia.

Sendo assim, que a Academia de Letras e Artes de Castro Alves tenha vida longa, profícua e prolífera.

Bem, meus queridos confrades e queridas confreiras, agora temos a nossa Academia de Letras e Artes. Então, é preciso desenhar o modelo de academia que queremos. Podemos ter uma academia tradicional, elitista, fútil e inútil. Mas, pelo que conheço da alma e da têmpera de meus pares, parece que teremos uma academia rebelde, vibrante, plural, operante e participativa.
Eis a nossa sublime incumbência, caros parceiros e parceiras: fazer da ALACA um pólo irradiador de cultura em nossa amada Castro Alves. Conclamo os eminentes acadêmicos e acadêmicas para, num só entusiasmo e sob o impulso de forças construtivas, erguermos para o futuro, o monumento imperecível da cultura e do saber.

Mas, antes que fiquemos extasiados pela emoção que este momento nos proporciona, devo alertar que alguns inimigos nos espreitam, e eles são perigosos, peçonhentos, e podem aniquilar todos os nossos esforços. Um deles é a política partidária. Ela que, por representar interesses pessoais, ainda mais numa comunidade pequena como a nossa, desperta sentimentos desagregadores, por isso temos que estar precavidos e não permitir que aqui se instale a perniciosa cultura da política, mas a salutar política da cultura. Outro inimigo da cultura é a vaidade. Esta é uma fraqueza da natureza humana e todos nós estamos suscetíveis. Algum de nós, tomado pelo sentimento de consagração de que falei no início, pode, literalmente, sentir-se imortal. Mas, imortal é o habitante do amanhã, é aquele que vive hoje e habitará sempre na memória das pessoas. Será imortal aquele que, durante a ocupação de uma destas cadeiras, ou não, produzir uma obra imperecível, que reflita beleza ou traduza em bem-estar para a humanidade. Nesse sentido, ser, simplesmente, titular de uma cadeira na academia de letras não garante a imortalidade.

Segundo interpretações esotéricas, o templo de Salomão era constituído de várias colunas. Essas colunas tinham funções estruturais, estéticas e também possuíam rico significado simbólico.
Não posso terminar este discurso sem reiterar a minha convicção no sucesso de nossa academia. Essa certeza é respaldada no conhecimento do material humano que constitui o corpo da nossa confraria. Com essa valiosa matéria-prima, nosso monumento será edificado em bases sólidas. Então vejamos:

Certamente não foi por acaso que instalaram Aurino Teixeira na cadeira no. 1. Parece que a intenção foi colocá-lo ali para que ele simbolizasse a coluna que sustenta o pórtico da academia. Dono de invejável memória e lucidez, Aurino Teixeira é um verdadeiro arquivo vivo da história de nossa terra. Com sua longa e sobejamente conhecida folha corrida de serviços prestados à Castro Alves e à sua gente, Aurino Teixeira, que também é o decano desta academia, é uma referência para todos nós e sua missão é atuar como um sentinela avançado da academia. Peço permissão para prestar uma homenagem particular ao confrade Aurino Teixeira. É que entre ele e meu saudoso pai havia uma forte ligação de amizade, e um dia eles se tornaram compadres. Por isso, agora, quero, publicamente, abraçar carinhosa e respeitosamente o meu padrinho Aurino Teixeira.

Na entrada do templo de Salomão, havia duas colunas: uma representava a força e a outra a beleza. É impossível alguém tentar organizar um colóquio literário, um sarau, um grande evento cívico ou social ou até mesmo um simples convescote, sem contar com a prestimosa colaboração de Morena. Em nossa academia, como já foi dito, Aurino Teixeira, da sua cadeira no. 1, representa a coluna de sustentação, e, da cadeira no. 2, Maria Eulina Novaes, com seu magnetismo pessoal, representa a coluna da beleza.
Meu discurso ficaria com uma imperdoável lacuna se eu não exaltasse o nome do acadêmico José Luciano Correia Bernardo como o grande baluarte desta academia. Não tenho receio de parecer pretensioso, mas, em nome de todos os castroalvenses, quero deixar consignado aqui um preito de gratidão, por tudo que ele fez, faz e fará pela cultura de nossa terra. Obrigado por tudo, Luciano.

Simbolicamente a nossa academia é sustentada por 25 colunas, cada uma com um significado místico. E cada uma, com seu significado alegórico, representa um acadêmico. Gostaria de nomeá-las, mas o bom senso e uma regrinha básica de oratória recomendam que devo adiar essa atividade para outra ocasião. Quero apenas dizer que me sinto muito emocionado pelo reencontro com companheiros de infância, velhos amigos, colegas de ginásio, conterrâneos e conterrâneas, uns mais próximos, outros nem tanto, mas todos muito estimados. Aos mais jovens, com os quais não convivi, confesso que espero ansioso a oportunidade para consolidar essas novas amizades. Quero pedir emprestado a Chico Buarque um de seus geniais poemas para expressar o meu sentimento numa mensagem que desejo passar para os jovens acadêmicos de todas idades:

Ouça um bom conselho
Eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade.
Muito obrigado e viva a Academia de Letras e Artes de Castro Alves.

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Pronunciamento acadêmico Newton Quadros


Ilmo. Sr. Dr. Benjamin Batista Filho, Presidente da Federação das Academias de Letras e Artes da Bahia e desta sessão solene de instalação da Academia de Letras e Artes de Castro Alves (ALACA);
Ilmo. Sr. Professor Luciano Bernardo, Presidente da Academia que está sendo instalada.
Ilmo. Sr. Augusto Pontes de Carvalho, operoso Prefeito do Município de Castro Alves;
Ilmo. Sr. Vice-Prefeito Wandilson de Cerqueira Lima;
Ilmo. Sr. Breno Logrado, Presidente da Câmara de Vereadores;
Ilma. Sra. Professora Edileusa Batista Barbosa, Secretária de Educação e Cultura;
Ilma. Sra. Professora Lélia Fernandes de Oliveira, Presidente da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana, sede da micro– região da qual faz parte nosso município;
Ilma. Sra. Bernadete Lago, Presidente da Associação Comercial de Castro Alves e do jornal “Aves de Arribação”;
Demais autoridades aqui presentes ou representadas;
Queridos confrades, ilustres fundadoras e fundadores desta Academia;
Minhas senhoras e meus senhores;
Mocidade castroalvense!

Esta data de 14 de março de 2008, quando se completam 161 anos de nascimento do poeta Castro Alves, reveste-se de significado muito especial, por assinalar a instalação da Academia de Letras e Artes de Castro Alves (ALACA), antiga e justa aspiração da comunidade castroalvense, que reivindicava um centro literário e artístico, na terra que serviu de berço ao Poeta da Liberdade, tendo por sede justamente este Sobrado, construído no início do século XIX, para servir de casa-grande da Fazenda Curralinho, embrião do arraial de Nossa Senhora da Conceição do Curralinho, da vila, através da Lei Provincial n.º 1987, de 26 de junho de 1880 e finalmente da cidade de Castro Alves, mediante a Lei Estadual n.º 360, de 25 de julho de 1900.

No final do século XVIII, os paulistas João Antunes da Silva Castro e sua mulher Ana da Silva Castro – bisavós de Antônio de Castro Alves – fixaram-se nesta região, tornando-se proprietários de uma vasta extensão de terra.

Como assinala o escritor Antônio Loureiro em seu artigo “Castro Alves – 100 anos de elevação à categoria de vila”, publicado no jornal “A Tarde”, de 26.06.1980, foi esta “região primitivamente dominada pelos índios sabujás e cariris, originários dos tupinambás, tornando-se, de logo, centro de ativo comércio, para onde convergiam as boiadas vindas do alto sertão”.

Curralinho – verdadeiro traço de união entre o Recôncavo e o Sertão – serviu de berço para numerosos ascendentes do Poeta, como seu avô materno José Antônio da Silva Castro – o legendário Periquitão – que lutou bravamente na Bahia pela consolidação da Independência do Brasil, plenamente vitoriosa em 02 de julho de 1823.

Neste vetusto Casarão nasceu, em 02 de abril de 1847, o general Dionísio Evangelista de Castro Cerqueira, herói da Guerra do Paraguai, primo de Antônio de Castro Alves e neto do patriarca João Evangelista dos Santos e da matriarca Ana Constança da Silva Castro, seus primeiros proprietários.

No santuário do Sobrado, casaram-se, no dia 30 de novembro de 1844, o Dr. Antônio José Alves e Clélia Brasília da Silva Castro – filha do Periquitão – onde passaram a lua de mel, viajando mais tarde para a Fazenda Cabaceiras, deixada pelo major Silva Castro como herança para o casal, onde nasceram seus filhos José Antônio, Antônio Frederico (nosso Poeta), João e Guilherme. Sua filha Elisa nasceu em São Félix e Adelaide e Amélia nasceram na capital da Província, a então cidade da Bahia, hoje Salvador.

O garoto Cecéu passou a infância entre as planícies e as várzeas de Cabaceiras e Curralinho, onde floriam “as roxas maravilhas da campina”, como evoca no poema “Lúcia”.

Em 1870, Castro Alves permaneceu neste Sobrado de fevereiro a julho, em companhia de Joana Constança da Silva Castro, prima de sua mãe. Veio a Curralinho, de clima ameno e aprazível, na esperança de melhoras para sua saúde, já bastante combalida. Aqui, à sombra do velho tamarindeiro, em frente do Casarão, costumava encontrar-se com sua namorada, a formosa serrana Leonídia Fraga, imortalizada em “O Hóspede”.

A propósito, esperamos que a nova Academia se empenhe junto aos poderes públicos para o plantio de um novo tamarindeiro, no mesmo local daquele que existiu outrora.
Nesse período, certamente contemplando as serras azuis que emolduram os horizontes de seu verdejante Curralinho, Castro Alves escreveu treze poemas, entre os quais “O Hóspede”, “Aves de Arribação”, “A Duas Flores”, “Horas de Saudade”, “Pelas Sombras” e “Coup d’Étrier”. Neste último, escrito em 01 de junho de 1870, escreveu no final da quinta estrofe:

“O Pródigo ... do lar procura o trilho...
Natureza! Eu voltei ... e eu sou teu filho!”

No dia 02 de julho de 1870, o cortejo cívico comemorativo da data histórica parou defronte do Sobrado. Assomando, então, a sacada, o Poeta, perante o povo em delírio, começou a recitar sua monumental “Ode ao Dous de Julho”. Faltando-lhe, porém, a voz, devido ao agravamento de seu estado de saúde, pediu ao amigo e conterrâneo Davino Figueiredo que prosseguisse com a declamação. Essa foi a segunda vez que a famosa Ode foi recitada, sendo que a primeira teve lugar no dia 02 de julho de 1868, no Teatro São José, em São Paulo, quando o Poeta entrou no recinto com Ruy Barbosa e Joaquim Nabuco, seus colegas de 3º ano da famosa Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Também nesse ano de 1870, com o dinheiro adquirido entre amigos, alforriou, no Curralinho, uma escrava que pertencia ao comerciante Manoel Lefundes.

Gostaria também de relembrar, neste momento histórico, a despedida do Poeta de seu risonho Curralinho, em julho de 1870, no final da segunda estrofe do poema “Coup d’Étrier” (“Ao Pé do Estribo”):

“Adeus! Na folha rota do meu fado
Traço ainda um adeus ao meu passado”.

Um ano depois, precisamente no dia 06 de julho de 1871, partiu para a eternidade, apenas com 24 anos, para tornar-se a estrela mais brilhante do firmamento!

Gostaria de lembrar, principalmente para os mais moços, dois grandiosos eventos históricos, que tiveram como palco esta cidade. Refiro-me ao erguimento da Estátua de Castro Alves, no dia 14 de março de 1967, na atual Praça da Liberdade e a Restauração do Sobrado, que pertenceu aos seus familiares, no dia 26 de fevereiro de 1998.

No dia 14 de março de 1946, no Encontro comemorativo do 99º aniversário de nascimento do Poeta dos Escravos, foi lançada a Campanha do Monumento, por um grupo de jovens castroalvenses.

Por uma extraordinária coincidência, a colônia castroalvense, liderada pelo Prof. Waldemiro de Oliveira, fundava, no Rio de Janeiro a Ação Cultural Castro Alves, cujo objetivo principal era arregimentar forças para o erguimento da Estátua do Poeta em sua terra natal, na data comemorativa do seu Centenário. Entre esses castroalvenses se destacaram, além de Waldemiro, Sinaldo Sales, Arlindo Lima, Samuel Borges, Florisvaldo Cardoso, João Oliveira e muitos outros.
Vultos proeminentes nas letras e na política nacionais, como Pedro Calmon, João Mangabeira e Antônio Viera de Melo, deram seu valioso apoio à Campanha.

Em Castro Alves, foi empossada, nos idos de 1946, a Comissão Central Pró-Monumento, composta das seguintes personalidades:
Presidente: Dr. Osvaldo Requião
Vice-Presidente: Dr. João Pierre Hegouet
Secretário: Orlando Pereira Santos
Tesoureira:Dona Josabete Souza Maia
Membros: Dr. Osvaldo Campos, Aurino Teixeira, Pergentino Augusto dos Santos, João Alves Santana, Edvaldo Machado, Bueno Torres, Hélio Araújo, José Rui Teixeira da Silva, Luiz Martins, Profª. Araci Fernandes, Profª. Servita Castro Carvalho, Gorgina Teixeira da Silva, Geraldina Almeida, Stella Gaspari, Alizete Fernandes, Nair Barreto e Morena Novaes.

Os nomes desses abnegados colaboradores jamais serão esquecidos pelo nosso povo.
A Comissão Lítero-Divulgadora, constituída pelos então estudantes Wilson Lapa Barretto da Silva, Newton Quadros Cairo e Humberto Quadros da Silva, fundou o jornal “A Luz”, que serviu de porta-voz para a vitoriosa Campanha Pró-Monumento.

Entre esses castroalvenses, é justo que se ressalte, neste momento solene da instalação da ALACA, o nome do Dr. Wilson Lapa Barretto da Silva que, amando sua terra com paixão, liderou a Campanha da Estátua. Com admiração e carinho, o elegi como meu Patrono nesta Academia, justamente na data em que completaria 80 anos de gloriosa existência.

A estátua chegou, nesta cidade, em 1947, ano do Centenário de Nascimento do Poeta, porém só foi erguida, na atual Praça da Liberdade, no dia 14 de março de 1967, completando hoje quarenta e um anos.

Esculpida em Florença pelo escultor italiano Humberto Cozzo, o monumento representa o Poeta no alto de um pedestal, tendo aos seus pés o verso inicial de “O Navio Negreiro”: “Stamos em pleno mar”. No pedestal figuram títulos de poemas imortais, como “Vozes d’África” e “O Livro e a América”, não tendo sido esculpido, porém, nenhum dos títulos das treze poesias escritas no Curralinho. É justo, portanto, que a nossa recém-criada Academia reivindique a inscrição dos títulos de “O Hóspede” e “Aves de Arribação”, entre os demais poemas.

A matéria intitulada “História do Monumento”, publicada no segundo número de “A Luz”, em julho de 1947, termina com esta mensagem:

“Brasileiros! Baianos! Castroalvenses! O monumento que será erguido a CASTRO ALVES simboliza a própria Liberdade! Sede dignos da terra em que nascestes, colaborando para o maior esplendor dessa campanha meritória!”.

O segundo grande evento histórico, que teve como palco esta terra predestinada, foi a aquisição e a restauração deste Sobrado, antiga sede da Fazenda Curralinho, onde deverá funcionar a Casa de Cultura.

Através da Escritura de Compra e Venda, lavrada no Tabelionato de Notas local, Livro 138, fls. 030, de 04.03.88, a Prefeitura Municipal, quando era prefeito Paschoal Blumetti, adquiriu o Casarão aos descendentes dos Castros.

Através de Aviso de Licitação, publicado no Diário Oficial do Estado de 21/22.09.96, o Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural – IPAC abriu o processo da Tomada de Preços para a Recuperação do Imóvel.

A Campanha da Recuperação do lendário Sobrado foi solenemente lançada, em 06 de setembro de 1995, no plenário da Câmara de Vereadores do Município, com a participação entusiástica de Maria Conceição Almeida Ribeiro, nossa querida Babia, Núbia Rebouças, Newton Quadros, Eliana Lago, Luciano Bernardo, Jorgina Teixeira da Silva, Mário de Almeida Lima, Maria Eulina Novaes, a eterna namoradinha de Castro Alves e muitos outros.

Afinal, após um movimento empolgante, liderado pela Associação Comunitária dos Amigos da Cidade de Castro Alves – AMICA, em cujo nome falo neste momento, durante as gestões presididas por Carlos Adailvo Silva e José Fernando Nascimento, foi comemorada a restauração do Casarão do poeta, em 26 de fevereiro de 1998, há exatamente dez anos.

Antes de terminar, gostaria de homenagear a nova geração de castroalvenses que, através do periódico “Aves de Arribação” e outras atividades continua conduzindo a tocha votiva ao Poeta imortal e à sua terra predestinada. Entre esses abnegados conterrâneos vale destacar Aldo de Oliveira Junior, Ana Leão, Bernadete Lago, Edinaldo Melo, Eliana Azevedo, Elmo Sampaio, Hanilton Souza, Luciana Batista, Natália Cerqueira, Rafael Lima Junior, Rita Sá, Tatiane Oliveira, Tiara Meirelles, Wanderlei Nunes, além de outros.

Finalmente, quero concluir lembrando que esta Academia de Letras e Artes de Castro Alves – ALACA é a 75ª das congêneres espalhadas pelos quatro cantos da Bahia, graças, especialmente, ao dinamismo e à paixão de Benjamin Batista.

Segundo o escritor Jorge Amado, Castro Alves, o Patrono deste sodalício, foi “o mais belo espetáculo de juventude e de gênio que os céus da América já presenciaram”!

Longos anos de vida para a recém-instalada Academia de Letras e Artes de Castro Alves, plantada no coração do Curralinho, em homenagem ao imortal Poeta da Esperança!


Cidade de Castro Alves, 14 de março de 2008.

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